Quinta-feira, 19 de Novembro de 1990
Querida Lita, é um grande clichê, todavia,
estou morrendo de saudades de ti. A vida está difícil aqui no Sertão, chove
pouco, e está muito sol, como de costume. O dinheiro que eu ganho é com coco de
cabra, eu colho e vendo no Mercado Municipal, pelo menos consigo comprar
alimento, já que aqui eu não me preocupo muito com energia elétrica.
Sabe, aquela vez que você veio foi muito
gostoso, observamos o luar com cheiro de coco de vaca, mas, estava bom.
Acredita que toda vez que eu sinto o cheiro de coco de vaca, eu lembro de você?
é nojento, e pode ser até ofensivo para quem estiver lendo essa carta a não ser
você, mas, só você sabe das nossas palhaçadas, e de como tentamos fugir desses
padrões que as pessoas impõem sobre respeito. As vezes eu ligo o rádio, e
lembro muito de você, poucas vezes tocam uma música que fala da gente, mas,
toda vez que eu a escuto, eu lembro de nós, essa música se chama Maurício”, e é
do Legião Urbana. Se lembra quando a gente ia para os bailes, e de repente
tocava Geração Coca-Cola? Então, a gente pogava que nem louco ao ouvir essa
música, e as pessoas morriam de inveja, pois, ninguém agitava como a gente, só
nós do baile íamos para sons de punk rock. Lembra também quando tínhamos uns 13
anos, e trocávamos figurinhas de um
álbum do “sistema solar”? tinha uma página que era para completar o sistema
solar, e as outras mostravam alguns deuses, algumas coisas de astrologia, e
como era o signo em sua forma física. Foi aí, que começamos a ficar horas no
quarto, falando sobre as qualidades e defeitos dos nossos signos. É inverno em São Paulo, e o seu signo talvez
não combine tanto com esse tempo, mas, espero que você arranje alguém para te
aquecer nesse frio que é infernal.
Lita, você sempre soube que você é o amor da
minha vida, mas, o meu signo sempre presou pela liberdade, logo, eu quero que
isso seja recíproco e também ético. O meu amor, é o verdadeiro sentido do “amor
platônico”, sua tolinha, e toda vez que eu vou para aí, ou você vem pra cá, a
gente se diverte e mata as nossas saudades. Estava contando para um amigo que
mora em um sítio aqui perto sobre o meu primeiro beijo, ele ficou horrorizado
quando eu disse que foi com 12 anos, e eu ainda disse com o maior orgulho: -
FOI COM A LITA!
Estou juntando um dinheiro para ir pra São
Paulo no final do ano, querida, quero assistir uma peça de teatro, ir para um
som de punk rock, e ver o otário do Carlos. O Carlos é um cara que eu tenho uma
forte admiração, os anos passaram e ele continua com o mesmo ideal, continua
anarquista, e lendo os livros do Bakunin, mas, ele sempre ficou bravo por eu
colocar os rebites de uma forma que ficassem alinhados.
Lita, fique em paz nesse inverno infernal.
Receba este disco que eu encontrei em uma pequena discoteca da cidade. Nele tem
a música “Maurício”.
Um forte abraço de um indivíduo que sempre te
considerou e amou, Bill Ramos.
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