Os
antigos diziam que todo mundo já nascia namorando: as genitálias eram
encaixadas umas nas outras, proporcionando um prazer recorrente e imensurável.
Eles acreditavam num período cuja felicidade afetiva não precisava ser buscada.
Até que Zeus, por sua inveja, dividiu os seres fincados e inventou a crença no acaso.
É dolorosa a narrativa do
desvencilhar da gente, no apunhalo na garganta quando toca na rádio a música da
Adriana Calcanhoto, Metade. Quem se sente sozinho, se sente do avesso, o nosso
quarto nos vomita. O mundo deixa de ser a casa certa.
Os dedos foram feitos para se
entrelaçarem nas esquinas da existência, apaixonar-se é fazer de tudo para ser
andrógeno novamente. Sim, aqueles que nasceram namorando e tendo o prazer
recorrente como um momento do instinto, tinham o nome de andrógenas: eram quantos
e quem quisessem ser na eternidade de seus prazeres. A individualidade destes
seres unos vivia na comunidade do amor.
A separação para os antigos, o
término de um relacionamento afetivo não significava nada mais do que uma
advertência à busca, Há um movimento erótico que gera perguntas, o Eros voa na
busca da Psique, nos expõe a quantas relações forem necessárias, até que o
prazer imensurável e real volte a manifestar-se. Este deus ensina que a alma é
uma partilha. Namora aquele que é feliz ao partilhar a sua alma com o outro.