quarta-feira, 8 de junho de 2016

Para o dia dos namorados

        Os antigos diziam que todo mundo já nascia namorando: as genitálias eram encaixadas umas nas outras, proporcionando um prazer recorrente e imensurável. Eles acreditavam num período cuja felicidade afetiva não precisava ser buscada. Até que Zeus, por sua inveja, dividiu os seres fincados e inventou a crença no acaso.
            É dolorosa a narrativa do desvencilhar da gente, no apunhalo na garganta quando toca na rádio a música da Adriana Calcanhoto, Metade. Quem se sente sozinho, se sente do avesso, o nosso quarto nos vomita. O mundo deixa de ser a casa certa.
            Os dedos foram feitos para se entrelaçarem nas esquinas da existência, apaixonar-se é fazer de tudo para ser andrógeno novamente. Sim, aqueles que nasceram namorando e tendo o prazer recorrente como um momento do instinto, tinham o nome de andrógenas: eram quantos e quem quisessem ser na eternidade de seus prazeres. A individualidade destes seres unos vivia na comunidade do amor.

            A separação para os antigos, o término de um relacionamento afetivo não significava nada mais do que uma advertência à busca, Há um movimento erótico que gera perguntas, o Eros voa na busca da Psique, nos expõe a quantas relações forem necessárias, até que o prazer imensurável e real volte a manifestar-se. Este deus ensina que a alma é uma partilha. Namora aquele que é feliz ao partilhar a sua alma com o outro.